quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

empate


Pois agora digo: como tua língua me pesa! Curioso: se há os dias de gente demais, gente e cadeiras nos separando em plena mesa redonda, tua língua de longe, sendo só saliva e tua, me pesa como se eu mesma não tivesse língua e, somente por isto,  desejasse a tua feito comida; se entramos em teu quarto vasto de não mobília, com vinhos que prometem, meu travesseiro do lado esquerdo da tua cama tão minha, tua língua me pesa porque me entra tanto, agride minha língua como se ela nada fosse, segue as cordas vocais e, tenho a impressão, se aloja pouco abaixo do pulmão, dizem que é lá que pulsa. Compreendes o nó? Tua língua distante, comendo, sendo pura língua, não me deixa em paz por estar não ocupada de mim.Tua língua em mim, braços, pescoço, pernas, mamilos e dentes, tua língua em mim me leva embora.

Pois agora digo: desejo que pegues um avião, mais um, e que tua língua ruína te leve embora.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

para um homem silencioso

é uma pena que eu seja dessas pessoas que esperam
uma pena que você seja sempre tão apressado
mergulha sem molhar o cabelo
prefere beijos no escuro                        
e preza pelo não olhar só escutando

é terrível que você tenha janelas à prova de balas
que o vidro do seu carro seja escuro
é uma grande pena que sua tatuagem — tão exposta —
seja, no fim das contas, apenas um grande segredo aberto
uma pena que eu tenha gostado justo de você
você que nunca deixou a barba grande
que esconde o livro preferido de costas na estante

é uma pena que eu tenha visto Virginia Woolf na sua parede
porque depois disso pensei que alguma coisa minha
se comunicava com alguma coisa
do seu quarto de cortinas cerradas
lamentável que eu seja dessas pessoas
impressionáveis com literatura
lamentável que seus livros sejam
tão parecidos com os meus
porque eles me enganam profundamente se sugerem
que você tem um bocado de mim

é uma pena que você não saiba
 a vontade de amar já é amor