segunda-feira, 21 de abril de 2008

Intimida(de) ou O jogo da verdade

Noite de insetos, cigarros, cerveja. Noite sem homens, mulheres segredadas como todas hão de ser. Era hora de jogar. Era hora de despir-se e no entanto permanecerem intactas em supostos absurdos não compartilhados. Todas pensavam o mesmo e naturalmente se pensavam únicas. Uma queria, outra tinha, a terceira ainda escolhia. Absolutamente clandestinas quanto a eles, que sonhavam com uma mocinha da tevê, ou dormiam com amigas. Noite sem homens; um deitou-se, o outro era espera, do terceiro não se sabia. Afinal, um espaço fora delimitado e abriam-se todas as frágeis cercas que dão para dentro? Só enxergamos o fim quando corremos à procura de umas cores alegres e acidentalmente chegamos lá, vemos o que sempre soubemos certo, sempre soubemos o que todos sabem. E o que vai além? Em mim são poços, são mortos, morto-vivos, lágrimas contidas em lagos inertes; no meu limite infinito é luz, mas uma luz de desordem e miséria. Uma luz desconforto, quase sem luz, jamais sem. Em mim são homens que ainda não formaram rosto, mulheres que me pediram o aspecto e lhes dei de bom grado. No meu terreno proibido e nunca habitado eu estou nua, nua e frígida. Suave nos contornos e na voz. Todos despidos; pessoas que ainda não conheço, assombrações, os defuntos que velo religiosamente e não são absolutamente enterrados (nem nunca serão). Meus dedos nus de toque e de aproximação, faltam anéis, compromissos, faltam mãos que não sejam as minhas, são dedos roídos. Estamos desprotegidos, eu e meus dedos e meus vivos e meus mortos. O vento nos espanta, e nesses dias de vento e binóculos fora da teia, nos juntamos. Eles se escondem num compartimento interditado, apertam-se, calam-se e permanecem até que eu abra as portas e novamente os liberte. Noite de insetos, cigarros, cerveja. Estão todos presos, amordaçados pelo jogo de mulheres que tiram uma peça de roupa, permitem beijos catalogados, talvez leves arrepios não planejados, nada que comprometa seriamente, que as deixe sem ar despudoradas animalescas maravilhosamente instintivas e sorridentes. Negam-se a mostrar o sexo, as ancas, cobrem os seios ou qualquer sinal que as deixe vulneráveis, permanecem intactas.

3 comentários:

Amanda Moraes disse...

intimamente escandalosa, você.

Amanda Moraes disse...

ah! lindo... como sempre. :)

Íris: disse...

Não sei como cabe essa quantidade toda de poesia numa menina tão miúda.
Se eu falasse, ninguém acreditaria!
É a alma que é grande.

Amo vocêêê! =*