domingo, 1 de junho de 2008

Santa Isabel

O que ocorre é o de sempre: Enquanto nos beijamos pelas esquinas de lixo, neste exato momento um menino qualquer, filho da noite, dos restos de nada, filho das roupas desprezadas aparece em frente ao amor. O menino quase nu, cabelos desgrenhados e um odor dos esgotos que dão para o belíssimo teatro cor-de-rosa; lá fomos ver mentiras maquiadas, lá celebramos a união.
Nosso amor que não pensa nos explorados e oprimidos. Nós que nos exploramos até o último gozo, nos oprimimos de beijos taciturnos. Os engajados abriram mão da dor e da solidão aos pares. Melhor levantarmos bandeiras caseiras, melhor comprarmos moderadamente. Não trocam presentes em datas estipuladas, usam panos até que os panos se recusem a serem usados. Não amam sujeitos com nome, sobrenome e família tolerável (como todas são). Amam numa aura que envolve a todos: Fracos e fortes, principalmente fracos. Principalmente os pobres e sujos e principalmente distantes, sem nome, sobrenome e sem casa.
Sem casa e sem cama, sem mãe que dite horário, sem pai que preze o sexo que não o pertence. Principalmente os famintos, aceitam bananas e cascas igualmente. Aceitam bandeiras caseiras e não se importam com aparência, panos e nomes. Eu finjo que não olho, beijo a pessoa de nome, roupas adequadas e um cheiro que tem seu preço. Beijo meu par e espero que o menino vá embora, que apareça aos solitários, encontre um lixeiro e me esqueça assim como o esquecerei; e não me culpe por não tê-lo parido, por não tê-lo aguardado junto ao berço, manta para cada dia da semana, amor imenso, amor zeloso. Que ele não me culpe por ser indiferente, eu que sou tão pobre quanto ele.

4 comentários:

Íris: disse...
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Daniel Feitosa disse...
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Amanda Moraes disse...

sua bonita!

Camie disse...

tu é minhe idole marininhe.
meu orgulhinhe.