quinta-feira, 22 de maio de 2008

Prece

Deus, dá-me um Deus que caiba no meu coração em cio. Dá-me um pai que não seja meu genitor asilado nas putas. Dá-me uma oração que não seja decorada e decorativa. Deus, dá-me um céu aqui mesmo, nesta terra de gravidade exatamente calculada. Dá-me benção qualquer, para que eu possa me igualar aos que se gabam do dinheiro a mais, da cura repentina, ou mesmo da chuva que não veio em dia de domingo. Sobretudo dá-me paz, Deus. Dá-me paz para nas noites frias, não, nas quentes, eu sobreviver aos recalques, recatos e recados que soam feito leis. Dá-me paz suficiente para os sessenta anos que ainda viverei (é o que dizem). Sessenta anos de manhãs tão pesadas por pactos unilaterais; e noites retalhadas de encontros solitários. Sobretudo dá-me a mim, Deus. Dá-me as torturas que são minhas e agem como se não. Dá-me a leveza dos dias santos e toma para ti o peso dos expedientes. Dá-me a mim. Para que em posse de mim, eu possa crer que és meu, meu Deus.

2 comentários:

Amanda Moraes disse...

Um dia eu disse: "Deus, dá-me um corpo oco, um mundo feio, com jeito de desamor".

enquanto queres paz, eu clamo por guerra. e no final das contas, tudo termina sendo uma coisa só. :)

Íris: disse...

Amém, enfim.